Depois da febre dos jogos Play-to-Earn (P2E) entre 2021 e 2023, o mercado de GameFi passou por um processo inevitável de amadurecimento. Muitos títulos que surgiram na esteira da hype não conseguiram sustentar suas economias ou oferecer uma experiência de jogo realmente envolvente.
O resultado foi previsível: colapsos de tokens, abandono de comunidades e uma forte queda na confiança dos investidores e jogadores. Mas, como em todo ciclo de inovação, também surgiram aprendizados. E, como você já deve ter notado, esses aprendizados fazem toda a diferença em relação à robustez de novos projetos que vão surgindo no universo cripto.
Em 2025, uma nova geração de projetos vem sendo chamada de "GameFi 2.0". Eles trazem propostas mais sólidas, com foco na jogabilidade (gameplay), na retenção dos jogadores e em modelos de tokenomics mais sustentáveis.
Neste artigo, vamos explorar o que diferencia essa nova fase da anterior, quais jogos estão se destacando e se finalmente o mundo gamer tradicional vai aderir a essa vertente cripto.
O que foi (e o que não funcionou) no primeiro ciclo de P2E
A primeira onda de jogos Play-to-Earn (P2E) foi impulsionada por um modelo que priorizava recompensas financeiras diretas aos jogadores. Títulos como
Axie Infinity e Bomb Crypto se popularizaram por permitir que usuários ganhassem tokens ao realizar tarefas básicas, como batalhar contra bots ou coletar itens em fases repetitivas.
Essa mecânica atraiu uma enorme base de jogadores, muitos deles vindos de países em desenvolvimento e motivados principalmente pela promessa de retorno financeiro rápido — e não necessariamente pelo valor do entretenimento ou da narrativa desses jogos.
O grande problema é que esses ecossistemas eram sustentados por um modelo econômico frágil e altamente dependente da entrada contínua de novos usuários. Enquanto a base de jogadores crescia, a demanda pelos tokens se mantinha alta, impulsionando os preços. No entanto, quando o ritmo de entrada começou a desacelerar — algo inevitável em qualquer ciclo de adoção —, a emissão constante de tokens gerou inflação dentro do jogo.
A oferta cresceu descontroladamente, sem que houvesse mecanismos sólidos de queima ou reinvestimento (que costumam direcionar questões relacionadas a oferta de tokens e, diretamente, influenciam nos preços). Tudo isso acabou levando a uma queda acentuada no valor das moedas internas.
Além disso, muitos desses jogos tinham uma gameplay rasa ou repetitiva, com pouca profundidade estratégica ou elementos que sustentassem o engajamento a longo prazo. Sem o incentivo monetário atrativo, a maioria dos usuários abandonava o jogo.
O resultado foi um colapso sistêmico: tokens desvalorizados, comunidades esvaziadas e projetos que deixaram de ser economicamente viáveis. Em retrospectiva, esse ciclo serviu como um alerta para o setor: recompensas financeiras não substituem a necessidade de um jogo divertido, equilibrado e com uma base econômica sustentável.
O que muda com o GameFi 2.0?
O conceito de GameFi 2.0 surge como uma resposta direta às falhas estruturais do primeiro ciclo de jogos Play-to-Earn. Ao invés de priorizar exclusivamente o aspecto financeiro — onde o foco era ganhar tokens rapidamente e “sacar” antes do colapso —, essa nova fase busca reequilibrar os pilares fundamentais da experiência gamer: gameplay de qualidade, economia sustentável e envolvimento genuíno da comunidade.
Uma das mudanças mais visíveis é o shift do modelo Play-to-Earn para Play-and-Earn — ou seja, o ganho financeiro continua sendo uma possibilidade, mas não é mais o único ou o principal atrativo. O jogador é incentivado a continuar jogando porque o jogo é, de fato, divertido, desafiador e com progressão significativa.
Projetos como Big Time, Illuvium e Pixels (dos quais te contaremos mais daqui a pouco) são exemplos dessa nova abordagem, com gráficos aprimorados, mundos expansivos e mecânicas mais próximas dos games tradicionais — o que atrai tanto o público cripto quanto o público gamer de longa data.
Outro diferencial importante está na forma como os novos jogos estão estruturando suas economias internas. Em vez de inflar o fornecimento de tokens com recompensas diárias distribuídas em larga escala, muitos projetos agora adotam sistemas de recompensa dinâmicas, modelos deflacionários e múltiplos tokens, separando a moeda de utilidade (in-game) da moeda de governança (ligada à comunidade e às decisões do protocolo). Isso ajuda a controlar a inflação e dá mais longevidade aos ecossistemas.
Além disso, o GameFi 2.0 incorpora boas práticas de
DeFi, como staking, pools de liquidez e reinvestimento dos ganhos dentro do próprio ecossistema, incentivando o jogador a manter seus ativos no jogo por mais tempo. Ao mesmo tempo, os desenvolvedores passaram a entender que a sustentabilidade econômica depende de parcerias estratégicas, inclusão de NFT com utilidade real (como skins, terrenos ou itens exclusivos) e participação ativa da comunidade na evolução dos projetos.
Em resumo, o GameFi 2.0 representa uma fase de amadurecimento do setor, com mais foco na usabilidade e no longo prazo. Se antes o público era majoritariamente especulativo, agora há um esforço claro para conquistar também jogadores que valorizam narrativa, mecânica sólida e uma economia que faça sentido além da especulação. E é justamente essa virada que pode garantir o espaço definitivo dos jogos blockchain na indústria global de games.
Exemplos de jogos promissores em 2025
Entre os destaques do GameFi 2.0 estão projetos como:
Illuvium: um RPG de mundo aberto com gráficos AAA e forte componente de exploração e batalhas. Além do foco em jogabilidade, o sistema de recompensa é baseado em staking e torneios, reduzindo a pressão inflacionária sobre o token;Big Time: mistura de RPG e coleta de NFTs com utilidade dentro do jogo. Com um sistema robusto de crafting e economia interna, busca atrair tanto investidores quanto jogadores que valorizam a experiência do jogo em si;Pixelmon Reforged: após um início polêmico, o projeto foi reformulado e agora foca em gameplay tendo como base seu efeito comunidade e governança ativa.
Esses jogos são apenas alguns exemplos de uma lista crescente de projetos que buscam unir o melhor dos dois mundos: entretenimento e valor econômico real. Eles ilustram bem o que o GameFi 2.0 significa em termos práticos.
Eis a pergunta-chave: e os gamers tradicionais?
Uma das grandes barreiras enfrentadas pela GameFi sempre foi a resistência dos gamers tradicionais, que viam os jogos cripto como "pay-to-win" ou "grinders com gráficos ruins". A nova geração de jogos tenta mudar essa percepção ao entregar experiências imersivas, com gráficos de alto nível, histórias envolventes e mecânicas de jogo comparáveis aos títulos mais populares da Steam ou das principais consoles.
Outro ponto fundamental é a redução da complexidade. Muitos jogos agora permitem login direto com carteira custodiada pela plataforma, compras via cartão de crédito e integração com marketplaces mais amigáveis. Ou seja, menos barreiras técnicas para que o jogador comum experimente a Web3 sem se dar conta que está em uma blockchain.
Ainda é possível lucrar com GameFi?
Sim, mas com muito mais planejamento. A ideia de "lucrar apenas jogando" perdeu força, e hoje a sustentabilidade vem de um ecossistema que inclui
NFTs com utilidade, tokens escassos, participação em DAOs e economia interna baseada em métricas reais (como tempo jogado, habilidade e contribuição com a comunidade).
Projetos GameFi 2.0 são menos especulativos e mais fundamentados. Investidores e jogadores agora precisam entender o modelo econômico por trás do jogo, estudar o time de desenvolvedores, roadmap e volume de jogadores ativos. Em outras palavras, o jogo ficou mais sério.
Com tudo isso dito: então o GameFi 2.0 está aqui para ficar?
O que estamos vendo em 2025 é uma reconfiguração do setor. A euforia inicial deu lugar a projetos mais sólidos, com base em experiência de usuário, engajamento e viabilidade econômica. Isso é um passo importante para que a indústria GameFi conquiste credibilidade e saia da bolha cripto para conquistar o público gamer de forma definitiva.
O caminho ainda tem desafios, como a regulação, o preconceito contra NFTs e a concorrência com jogos tradicionais. Mas uma coisa é certa: quem sobreviver ao filtro de qualidade e sustentação do GameFi 2.0 pode estar na vanguarda de um dos segmentos mais promissores da Web3 nos próximos anos.
E você, já tem projetos do GameFi 2.0 na sua carteira?
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