BC Drex CBDC Brasil

Com um dos sistemas financeiros mais moderno do mundo, o Brasil tem atualmente um dos projetos de CBDC (Central Bank Digital Currency) mais avançados do planeta.

Hoje 134 países e uniões monetárias exploram algum tipo de CBDC. Isso equivale a 98% do PIB global. Para se ter uma ideia do avanço das moedas digitais no mundo, em maio de 2020 apenas 35 nações exploravam esse tipo de ativo. Hoje, 66 países já exploram fases avançadas, como desenvolvimento, piloto ou lançamento.

China lidera maior piloto de CBDC do mundo

Todas as nações que compõem o G20 também exploram uma moeda digital fiduciária. Das 20 maiores economias do globo, 13 estão em estágio avançado dos projetos pilotos. Entre eles Japão, Índia, Austrália, Rússia, Turquia e Brasil, com um dos pilotos mais avançados do mundo. Bahamas, Jamaica e Nigéria já tem as próprias CBDCs, mas todas são apenas para varejo. O projeto brasileiro é bem mais complexo.

O maior piloto de CBDC do mundo é da China. Apenas em junho de 2024, o volume total de transações atingiu 7 trilhões de e-CNY (US$ 986 bilhões) em 17 províncias. Para exemplificar, esse número é quase quatro vezes o 1,8 trilhão de yuans (US$ 253 bilhões) registrado pelo Banco Popular da China em junho de 2023. Os dados são do Atlantic Council, que monitora os desenvolvimentos em todo mundo.

A CBDC brasileira é uma das melhores do mundo?

O BeInCrypto Brasil conversou com especialistas envolvidos no Projeto Piloto do Banco Central brasileiro.

George Marcel Smetana, especialista em Inovação em Estratégia Regulatória do Banco Bradesco, nos disse ser “difícil cravar que um projeto de CBDC seja o melhor, dadas as diferentes motivações envolvidas nas iniciativas em andamento ao redor do mundo.”

No caso do Brasil, o Drex nasce com uma visão clara de se posicionar como uma plataforma de liquidação envolvendo ativos digitais, aproveitando os benefícios da programabilidade e componibilidade da tecnologia para fomentar a criação de novos modelos de negócio, explica Smetana.

Ao mesmo tempo, o superintendente de estratégia e inovação da ClearSale, Marcelo Queiroz afirmou ainda ser cedo para dizer ser a melhor do mundo. “Isso porque está em desenvolvimento e não em operação”, argumenta.

Desafios a serem superados pelo Drex

O potencial para ganhos de eficiência no setor financeiro é enorme, mas há desafios a serem superados antes que o Drex chegue a pessoas e empresas de modo seguro e escalável, como garantir o cumprimento de requisitos de privacidade e endereçar questões de governança, usabilidade e prevenção a atos ilícitos, para ficar em alguns exemplos, diz o executivo do Bradesco.

Joao Aragão Pereira, Especialista de Tecnologia de Serviços financeiro da Microsoft na América Latina, explica que “Drex foi projetado para modernizar e otimizar o sistema financeiro brasileiro, oferecendo uma série de vantagens significativas, principalmente na mitigação de riscos das contrapartes e liquidação fluida”.

Drex – CBDC de atacado e varejo

Diferente das CBDCs que já estão em funcionamento, o Drex está sendo testado para Atacado e Varejo ao mesmo tempo e com muitos ativos “tokenizáveis” sob teste, e na maioria dos Bancos Centrais, é testado um ou outro. Isso torna a Drex uma plataforma polímata, explica Aragão.

O especialista da Microsoft explica que o Drex aplica o conceito de Unified Ledger, que registra todas as transações em um único livro-razão, garantindo maior transparência, segurança e eficiência. Esse sistema unifica diferentes plataformas financeiras, acelerando transações e reduzindo custos em ambientes de Atacado, Varejo e Multi-ativos, incluindo RWAs ou outros ativos.

Outro conceito inovador é o Finternet, que permite a interconexão de várias plataformas financeiras, via interledger protocol com total interoperabilidade entre ledgers e ambiente baseado em ISO20022, como Pix e Open Finance, facilitando a interoperabilidade entre diferentes sistemas e instituições, detalha João.

Isso será uma característica crucial para a implementação de soluções como o Drex, que dependem de uma rede robusta e interconectada para funcionar de maneira eficaz, acrescenta.

No Brasil, o desafio de pagamentos nesta modalidade no varejo já foi resolvido com o Pix, uma solução totalmente reconhecida por sua efetividade. O Drex, por sua vez, está sendo desenvolvido como um CBDC de atacado, com o objetivo de modernizar a economia digital do país por meio de uma infraestrutura inovadora, complementa o especialista da ClearSale.

Queiroz destaca a importância de entender que os bancos centrais podem definir as moedas digitais em duas modalidades principais: as de varejo, voltadas para pagamentos digitais entre consumidores, como o Pix. E as de atacado, focadas em digitalizar processos financeiros e econômicos em um nível mais amplo, como o Drex.

CBDC do Brasil pode se basear em Unified Ledger e Finternet

Nesse caso, o Brasil com o Drex tem o potencial de ser o primeiro país a ter uma CBDC baseado em Unified Ledger e Finternet, além de aplicar os conceitos de RLN e RSN no mesmo framework para transações nacionais e internacionais, diz, João Aragão.

Os casos de uso do Drex são variados e abrangem várias áreas do setor financeiro. Um exemplo é o trade finance, onde o Drex pode ser utilizado para automatizar processos de financiamento de comércio exterior, reduzindo a necessidade de intermediários e acelerando o tempo de liquidação das transações, e já iniciamos com a Autoridade Monetária de Hong Kong (HKMA), com o caso de commodities agrícolas tokenizadas, detalha o executivo da Microsoft.

Aragão destaca que o Drex pode integrar-se com AMM (Automated Market Maker), permitindo a criação de mercados automatizados para negociação de ativos digitais em pools de liquidez, aumentando a liquidez e reduzindo a volatilidade.

Vale ressaltar que a Microsoft é a única empresa a estar em pelo menos seis consórcios Drex e desde o início com o Lift Challenge, em 2021.

Drex vai facilitar swap com ativos físicos tokenizados

A tokenização imobiliária e de carros é outro caso de uso importante. Com o Drex, é possível facilitar o swap com ativos físicos tokenizados, como imóveis e veículos, permitindo que esses ativos sejam negociados de maneira mais eficiente e segura. Isso abre novas oportunidades de investimento e facilita a transferência de propriedade, além de introduzir outra indústria, a de seguros, no quais os contratos podem estar regidos em smart contracts.

Por fim, o Drex é uma plataforma multi-ativos, o que significa que pode ser utilizado para representar e transacionar diferentes tipos de ativos, desde moedas fiduciárias até ativos digitais e commodities. Isso proporciona uma flexibilidade sem precedentes e amplia as possibilidades de uso do Drex no mercado financeiro, diz João.

Vantagens CBDC Drex

Outras vantagens que João Paulo Aragão Pereira, Especialista de Tecnologia de Serviços financeiro da Microsoft América Latina destacou foram:

  • Privacidade, Segurança e Confiabilidade: O Drex é emitido e regulamentado pela autoridade monetária, o que garante sua estabilidade e confiabilidade. Diferente das criptomoedas, que são descentralizadas e podem ser voláteis, o Drex é respaldado pela “fé e crédito” do governo brasileiro.

Além dos testes de privacidade, na qual a Microsoft está construindo, junto com parceiros, uma solução que cubra o trilema proposto: componibilidade, segurança e descentralização.

  • Integração com Contratos Inteligentes: Drex permite a integração com contratos inteligentes, que são contratos autoexecutáveis com termos codificados.

Isso aumenta a eficiência e precisão das transações, além de permitir a criação de serviços e produtos modulares que podem ser combinados de maneira flexível, explica Aragão.

  • Liquidez e Finalidade de Liquidação: Os ativos Drex podem ser facilmente convertidos em outras formas de dinheiro ou ativos, facilitando um fluxo contínuo e a liquidação instantânea das transações sem atrasos ou riscos de reversão.

  • Acessibilidade: Drex facilita acima de tudo, pagamentos diretos do governo para pessoas, como reembolsos de impostos ou fundos de estímulo, diretamente em carteiras digitais que não exigem contas bancárias.

Drex – benefícios e inovações

  • Aumento da eficiência nas transações está entre os tópicos listados por João Aragão. Com a eliminação de intermediários e a redução de taxas, as transações se tornam mais baratas e rápidas. Pagamentos e transferências podem ser realizados quase instantaneamente, 24 horas por dia, 7 dias por semana. O que melhora sobretudo gerenciamento do fluxo de caixa para empresas e indivíduos, e esse tópico pode otimizar o Mercado de Capitais do Brasil e influenciar o mundo.

Outro impacto significativo é a mitigação de riscos de contrapartes. Com o uso de contratos inteligentes e a tecnologia blockchain, o Drex garante que as transações sejam seguras e transparentes, além de serem atômicas. Isso reduz o risco de inadimplência e fraudes, aumentando a confiança dos investidores e participantes do mercado, explica Aragão.

Drex deve aumentar inclusão financeira

O Drex também promove a inclusão financeira, facilitando o acesso de pessoas sem conta bancária ao sistema financeiro. Um dos grandes argumentos usados com frequência pelo próprio BC.

Com carteiras digitais, essas pessoas podem realizar transações e receber pagamentos, contribuindo para a inclusão de uma parcela significativa da população que antes estava à margem da economia formal, além de pagamentos offline, no qual vários países estão testando, concluí o especialista da Microsoft, João Aragão.

CBDC brasileira abre caminho para nova economia tokenizada

O Drex pode não ser o melhor projeto de CBDC do mundo, mas é certamente único, diz o Vice-presidente de Novos Negócios do Mercado Bitcoin (MB), Fabrício Tota.

A principal inovação está em criar uma camada de infraestrutura para ativos tokenizados, abrindo o sistema financeiro tradicional às possibilidades da tokenizacao, explica Tota. Para o executivo, o chamado do Banco Central ao mercado, envolvendo 16 consórcios na primeira fase para o piloto de negociação de títulos públicos, e agora ampliando para novos consórcios e casos de uso, expande, acima de tudo, o potencial do Drex.

Essa abertura permitirá a criação de soluções inovadoras que vão desde crédito tokenizado até a tokenizacao de diversos instrumentos financeiros, consolidando o Brasil como referência no mercado de capitais tokenizado, finaliza o VP de Novos Negócios do MB.

Segundo Marcelo, o Banco Central se destaca no Drex pelo modelo de inovação aberto que adotou. Desde o Lift Challenge até as fases do piloto, está sendo construído em colaboração com instituições financeiras,reguladores e especialistas, como por exemplo, a ClearSale. Essa abordagem colaborativa aliás, tem permitido avanços em privacidade, segurança, governança e operacionalização, essenciais para uma CBDC funcional, acredita.

Portanto, embora o Drex ainda esteja em fase de desenvolvimento, sua metodologia inovadora e colaborativa coloca o País em destaque no cenário global. A CBDC brasileira está no caminho de tornar uma das infraestruturas mais completas e modernas, atendendo rigorosamente aos requisitos necessários para uma CBDC de atacado bem-sucedido, acredita, o superintendente de estratégia e inovação da ClearSale.

Sim, CBDC do Brasil é uma das melhores do mundo

Marcos Viriato, CEO e um dos fundadores da Parfin, concorda que o projeto de CBDC do Brasil é um dos melhores do mundo. Ele citou algumas características a pedido do BeInCrypto Brasil.

Primeiro é bom entender que as CBDCs ao redor do mundo, procuram ter o projeto para melhorar a infraestrutura de pagamentos. Não é o caso do Brasil, pontua Viriato. O Brasil quer inovar em serviços financeiros, trazendo o DeFi, promovendo a tokenização da economia. Então isso já traz um diferencial muito grande, acrescenta o engenheiro.

Além disso, a CBDC brasileira, ataca tanto a parte de atacado quanto de varejo. Permitindo assim, que os bancos tokenizem o depósito – que é a CBDC de varejo, o real tokenizado. E o DREX, que é o real de atacado, o depósito tokenizado. Então alguns bancos centrais ao redor do mundo fazem só o atacado ou só o varejo, explica detalhadamente, Viriato.

Outro ponto é que o Bacen quer descentralizar a rede. Assim trouxe bancos e infraestruturas de mercado para rodar nodes da rede, o que é super evoluído.  Então ele (BC) quer uma rede efetivamente descentralizada, argumenta o CEO da Parfin.

Privacidade continua sendo testada na 2ª fase do Piloto Drex

A privacidade, que é uma das questões prioritárias para o avanço do piloto, continua no foco do BC. E a Parfin tem uma das soluções testadas no consórcio, a Rayls.

Com isso, a gente traz algumas complicações, que é, especialmente, a questão da privacidade que está sendo endereçada agora, e nós somos uma das soluções que estão sendo testadas. Se todo mundo está rodando o Node, todos podem ver tudo. Em um mercado financeiro regulado isso não é possível. Então ainda temos a questão de privacidade sendo endereçada, continua um dos fundadores da Parfin.

Acho que todos os casos da segunda fase mostram uma das vantagens. Não está sendo usado só para pagamentos. Se você olhar dos 13 casos, tem vários onde estão explorando o uso de lending pools para poder, por exemplo, fazer empréstimo colateralizado. Ou ainda utilização de cross border payment e uso DVP para garantir mais eficiência principalmente na liquidação de transações do mercado financeiro, acrescenta Marcos.

A utilização de interoperabilidade e oráculos para prover informações para blockchain, por exemplo. Tem várias soluções inovadoras nos casos da segunda fase, que não vemos em outros bancos centrais ao redor do mundo, explica.

Eu acho que todos os envolvidos estão, acima de tudo, muito alinhados com os objetivos e os resultados a serem alcançados. Então o engajamento do sistema financeiro para fazer o negócio acontecer está bem alto, finaliza Viriato.

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