A decisão da Microsoft de se afastar do Bitcoin e manter seu balanço patrimonial tradicional não foi apenas calculada, mas também implacável em sua precisão.

Em 10 de dezembro, os acionistas da gigante da tecnologia incendiaram uma proposta para afundar 1% de suas reservas de caixa de US$ 78 bilhões em Bitcoin. Isso teria sido aproximadamente US$ 784 milhões — uma pequena quantia de dinheiro para a Microsoft, mas uma declaração significativa para o mercado de criptomoedas.

O plano, lançado pelo National Center for Public Policy Research, chamou o Bitcoin de uma proteção contra a inflação, uma arma para combater a brutal taxa de inflação de 5% que vem pressionando a economia dos EUA há anos.

O conselho da Microsoft não hesitou. Eles chamaram o Bitcoin pelo que é: volátil. Deixaram claro que o caixa corporativo não é para especulação — é para estabilidade. Os acionistas os apoiaram com um retumbante “não”. Como deveriam.

O Bitcoin é arriscado demais para o livro de regras da Microsoft

A proposta enfrentou resistência desde o início. As oscilações de preço do Bitcoin são lendárias. Ele pode dobrar seu investimento ou cortá-lo pela metade em questão de semanas. Esse não é um risco que a Microsoft deseja correr com seu tesouro. A empresa precisa de liquidez, retornos previsíveis e reservas de caixa prontas para alimentar operações — não para apostar.

A liderança da Microsoft, desde a sala do conselho até os acionistas, não se deixou levar pela empolgação do Bitcoin como “ouro digital”. Claro, o Bitcoin proporcionou retornos impressionantes — quase dobrando de valor no último ano e subindo mais de 400% em cinco anos — mas isso não é suficiente para convencer uma empresa cuja DNA é construída sobre crescimento calculado e gestão de riscos.

E não vamos esquecer o contexto. O mundo corporativo tem observado o Bitcoin com ceticismo. Mesmo que algumas empresas como MicroStrategy e Tesla tenham embarcado na onda do Bitcoin, outras ficaram para trás, cautelosas com armadilhas regulatórias e oscilações de mercado imprevisíveis.

Para a Microsoft, a escolha foi menos sobre ser revolucionária e mais sobre proteger os interesses dos acionistas.

As consequências: o Bitcoin despenca, a Microsoft se mantém estável

Quando a rejeição chegou às notícias, o mercado reagiu. As ações da Microsoft mal se moveram, permanecendo firmes a $446 por ação. O Bitcoin, no entanto, não teve tanta sorte. Ele caiu mais de 4%, deslizando para cerca de $95.000. Isso é o mercado falando alta e clara: o valor do Bitcoin ainda depende fortemente de como as corporações o percebem.

Se a Microsoft tivesse dito sim, teria se juntado a um pequeno, mas barulhento grupo de entusiastas do Bitcoin no mundo corporativo. A MicroStrategy, por exemplo, acumulou mais de 402.000 Bitcoins, valendo cerca de $40 bilhões hoje.

O CEO Michael Saylor criticou repetidamente empresas conservadoras como a Microsoft, afirmando que elas perderam bilhões em ganhos ao se apegar a ativos tradicionais. Saylor estima que a Microsoft poderia ter arrecadado $200 bilhões em cinco anos apostando no Bitcoin em vez de se ater a recompra de ações e dividendos.

A Tesla, outro gigante do Bitcoin, detém cerca de $947 milhões na criptomoeda. O flerte de Elon Musk com o Bitcoin tem sido mais errático, mas ainda é uma parte firme do arsenal financeiro da Tesla.

Mas Bill Gates, cofundador da Microsoft, nunca gostou do Bitcoin. Ele o chamou de especulativo e sem valor intrínseco. Mas deixar o Bitcoin de lado realisticamente vai prejudicar a vantagem inovadora da empresa, especialmente à medida que os concorrentes exploram integrações de blockchain e cripto.

O que isso significa para o Bitcoin

Puristas do Bitcoin podem realmente apreciar a rejeição da Microsoft. O Bitcoin, afinal, não foi construído para depender da validação corporativa. Foi projetado para perturbar as finanças tradicionais, não para fundir-se a elas. A decisão da Microsoft de manter o Bitcoin à distância reforça seu status como um ativo independente e descentralizado.

A rejeição também destaca a crise de identidade do Bitcoin. Por um lado, é uma moeda revolucionária projetada para contornar instituições. Por outro, deseja a adoção em massa para elevar seu valor.

Sem amarras corporativas, o Bitcoin teria continuado a crescer organicamente. Seu futuro teria dependido da adoção descentralizada e do apoio de bases, não das vontades de salas de reuniões; exatamente como Satoshi Nakamoto pretendia.