Jerome Powell deixou claro que se o presidente Donald Trump tentar demiti-lo, ele processará. Ele disse isso uma vez, ele disse isso centenas de vezes: o presidente do Federal Reserve não pode ser demitido simplesmente porque o Oval não gosta da política de taxas de juros.

Agora, esses caras têm um relacionamento muito estranho e divertido. Trump literalmente contratou o próprio Powell no início de seu primeiro mandato em 2016. Então, bum, chegou 2018 e eles tiveram um choque.

Trump queria que o Fed baixasse as taxas de juros, mas Powell as manteve altas para manter a inflação sob controle. Isso não agradou Trump. Ele teria até pensado em demitir Powell, e sua frustração não era segredo.

O presidente do Fed disse ao então secretário do Tesouro Steven Mnuchin que ele lutaria legalmente se Trump tentasse tirá-lo do poder. E ele estava falando sério sobre isso. Ele chamou isso de “estabelecer um precedente perigoso”.

Avançando para hoje, e Trump está voltando para a Casa Branca. Powell não está mudando seu discurso nem um pouco. Quando perguntaram a ele recentemente se Trump tinha autoridade para removê-lo, Powell retrucou: "Não é permitido pela lei".

O retorno de Trump está trazendo esse velho drama de volta aos holofotes. Qualquer tentativa de Trump de remover Powell pode se transformar em uma batalha jurídica histórica — do tipo que pode abalar os sistemas financeiros e dispersar a economia. O Fed vem se preparando para esse confronto há anos.

Fed se prepara para uma luta

Nos bastidores, os líderes do Fed estão prontos. Scott Alvarez, conselheiro jurídico geral do Fed de 2004 a 2017, disse que Powell nunca se permitiria ser usado como um peão político.

“Se o presidente tiver sucesso nisso, isso significaria que cada cadeira futura estaria sujeita à remoção ao capricho do presidente”, Alvarez apontou. Em sua opinião, Powell não tem intenção de deixar Trump ou qualquer outra pessoa estabelecer esse tipo de poder. Powell, disse Alvarez, está pronto para levar isso até o fim.

Powell, que veio de uma experiência em private equity e é formado em direito, conhece sua posição legal. Ele pensou nisso. Veja, quando ele luta, ele diz que fará isso com uma equipe jurídica para apoiá-lo.

Powell está preparado para pagar por essa defesa legal ele mesmo se for preciso. Para ele, não se trata de dinheiro. Trata-se de garantir que o presidente do Fed não seja apenas mais um nomeado político que pode ser removido por fazer seu trabalho.

Mas aqui vai uma reviravolta ainda mais divertida. Trump nunca disse abertamente que ele definitivamente planeja demitir Powell. O presidente da SEC, Gary Gensler, sim. Mas Powell? Não.

Na verdade, quando falou com a Bloomberg em junho, Trump teria dito que deixaria o presidente do Fed "cumprir sua parte", contanto que ele estivesse "fazendo a coisa certa". Mas não há garantia de que Trump não mudará de ideia.

Ele criticou cada decisão tomada por Powell sob Biden, mas é claro que isso tem mais a ver com Biden do que com Powell.

Powell vs. Trump: A pressão aumenta

Scott Bessent, um gestor de investimentos e consultor de Trump, até sugeriu que Trump deveria nomear um presidente “sombra” do Fed para minar Powell. Bessent depois recuou dessa ideia após enfrentar críticas, mas o fato de ela ter sido lançada diz muito sobre a posição de alguns dos aliados de Trump.

Alguns de seus conselheiros estão prontos para ir ainda mais longe. Eles não gostam da ideia do Fed ser “independente” e fora do alcance da Casa Branca. Eles argumentam que a independência do Fed foi exagerada e que não há nada na Constituição que diga que o Fed não pode responder ao presidente.

O momento não poderia ser pior para uma reformulação no Fed. A inflação tem sido uma fera, e Powell tem trabalhado para controlá-la com aumentos nas taxas de juros. Agora mesmo, as taxas de juros de curto e longo prazo estão muito mais altas do que quando Trump estava no cargo pela última vez.

Qualquer movimento para remover Powell, especialmente no meio dessa batalha de inflação, pode causar estragos nos mercados financeiros, incluindo cripto. E o Bitcoin acabou de começar seu ritmo com a vitória de Trump. O ápice cripto estava prestes a atingir US$ 90.000 no momento da publicação.

Trump tem falado abertamente sobre querer reduzir a inflação e diminuir as taxas de juros. “A inflação, lembre-se, é uma destruidora de países”, ele disse em maio, sugerindo que altos custos de empréstimos poderiam prejudicar a economia. Ele deixou claro que se o Fed não se alinhar com suas metas, ele encontrará alguém que o faça.

A história e os riscos da independência do Fed

A luta do Fed pela independência não é uma história nova. Na década de 1970, Richard Nixon pressionou seu presidente do Fed, Arthur Burns, a manter as taxas de juros baixas antes de sua reeleição. Burns cedeu, e a inflação disparou logo depois.

Essa lição não passou despercebida pelo Fed. Desde então, eles têm trabalhado duro para se proteger da pressão política. No início dos anos 1980, o Fed e os bancos centrais em todo o mundo ganharam uma independência significativa, garantindo que pudessem definir as taxas de juros com base nas necessidades econômicas, não em desejos políticos.

Powell foi renomeado pela primeira vez para o trono do Fed por Biden em 2022 para outro mandato de quatro anos, que dura até 2026. O mandato de Powell no conselho se estende ainda mais, até 2028. Mas Trump insistiu que tem o direito de remover Powell. Quando seus assessores lhe disseram que ele não poderia, o presidente disse a ele em uma ligação: "Acho que estou preso com você".

Os membros do conselho do Fed cumprem mandatos de 14 anos, dos quais não podem ser removidos, a menos que tenham cometido um crime ou falhado em seus deveres. A lei não especifica se um presidente do Fed pode ser removido à vontade, deixando a porta aberta para interpretação legal.

Os juízes da Suprema Corte Brett Kavanaugh e Samuel Alito sugeriram em casos anteriores que a independência do Fed é única e pode dificultar a remoção do presidente por um presidente.

É por isso que Powell se sente confiante. Alvarez acha que Powell venceria qualquer batalha legal. O Congresso debateu se os presidentes deveriam ter o direito de remover um presidente do Fed, mas sempre decidiu contra isso.

O que acontece depois?

Powell tem sido cuidadoso para não antagonizar Trump diretamente. Ele não quer que o Fed se torne um futebol político. Sua estratégia tem sido manter a cabeça baixa, mesmo quando seu status de trabalho é mencionado em entrevistas.

Quando perguntado diretamente, porém, ele tem sido firme. Ele não vai renunciar. Ele não vai ceder à pressão. E ele não vai deixar o Fed se tornar apenas mais um braço da Casa Branca.

Mas se Trump decidir ir atrás dele, Powell tem um plano B. O órgão de definição de taxas de juros do Fed, o Federal Open Market Committee (FOMC), está pronto para apoiá-lo.

O FOMC, que inclui os sete governadores do Fed e um grupo rotativo de presidentes regionais do Fed, poderia simplesmente reeleger Powell como presidente se seu status fosse ameaçado.

A função de presidente do FOMC não é indicada pelo presidente. Ela é escolhida pelos membros do comitê em sua primeira reunião do ano. Isso significa que Trump poderia remover Powell de sua função de presidente do Fed, mas Powell ainda lideraria o FOMC, mantendo sua influência sobre a política monetária dos EUA.

Para os mercados, um confronto Trump-Powell pode ser um pesadelo. Michael Feroli, economista-chefe do JPMorgan Chase nos EUA, disse que os mercados reagiriam “muito mal” a tais notícias. Um pico nos rendimentos dos títulos pode ser a menor das consequências financeiras.

Essa batalha também se desenrolaria em um cenário fiscal complexo. O Tesouro tem trilhões de dólares em dívida para refinanciar nos próximos anos, dívida que foi emitida a baixas taxas de juros.

Os aliados de Trump no Congresso também podem ter um papel a desempenhar. Durante seu primeiro mandato, os republicanos do Senado bloquearam alguns dos indicados de Trump para o Fed, argumentando que eles não eram qualificados. Esses mesmos legisladores, como o senador Thom Tillis da Carolina do Norte, disseram que estão comprometidos em proteger a autonomia do Fed. Mas não está claro se eles fariam a mesma luta desta vez.

O que está claro é que Powell não vai cair sem lutar. Ele se vê como um guardião da independência do Fed, um papel que ele está pronto para defender a qualquer custo. Como ele disse a um visitante em 2019, “Eu nunca, nunca, nunca deixarei este trabalho voluntariamente até que meu mandato termine, sob nenhuma circunstância. Nenhuma.”