Trump está de volta à Casa Branca, e os líderes europeus estão tudo menos entusiasmados. Ele derrotou Kamala Harris, deixando os funcionários da UE com uma persistente sensação de pavor.
Depois de vê-lo interromper as relações internacionais e impor tarifas sobre produtos europeus em seu primeiro mandato, eles sabem o que esperar: mais guerra econômica. Eles estão planejando isso há mais de um ano, mas agora que é real, eles estão se esforçando.
Líderes da UE correm para proteger a Europa das tarifas
No dia seguinte aos resultados das eleições, diplomatas e líderes europeus acordaram com uma ansiedade compartilhada. “Estou vendo isso, [e] não quero acreditar”, disse um funcionário anônimo da UE. Outro diplomata acrescentou: “Não é ótimo, de novo”. Mas não houve choque dessa vez, apenas aceitação relutante.
Eles já viram o manual de Trump antes e sabem que não será gentil com a Europa. Os Estados Unidos e a UE compartilham a maior relação comercial bilateral do mundo. Em 2021, sua troca comercial e de investimentos ultrapassou 1,2 trilhão de euros (US$ 1,29 trilhão), uma conexão econômica muito importante para a Europa.
Mas a postura de “América Primeiro” de Trump sempre pressionou por mais produtos americanos nos mercados europeus, e ele está pronto para fazer a UE “pagar um alto preço” por não se mobilizar. Ele propôs uma nova tarifa de 10% sobre as importações europeias, o que prejudicaria as indústrias em todo o continente.
Para a Alemanha, essa é uma ameaça séria. As montadoras alemãs dependem muito das exportações para os EUA, e as tarifas de Trump podem devastar uma indústria já frágil. Em um relatório recente, analistas do ING chamaram a vitória de Trump de “pior pesadelo econômico” da Europa.
“Uma nova guerra comercial iminente pode levar a economia da zona do euro de um crescimento lento para uma recessão total”, eles disseram. O crescimento econômico em toda a UE já é lento, e adicionar novas barreiras comerciais seria catastrófico.
Os líderes europeus não estão esperando que as coisas se desenrolem. Eles se reunirão na quinta e sexta-feira em Budapeste para discutir suas respostas. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente francês Emmanuel Macron, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez e a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni devem comparecer.
Para a maioria, isso não é uma celebração, mas uma sessão de planejamento urgente. O clima em Bruxelas é tenso, já que os líderes se concentram em manter a economia da UE estável. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, é o caso atípico, no entanto. Fã de Trump de longa data, Orban deu a entender que abriria champanhe para comemorar. Mas para o resto da Europa, é hora de controlar os danos.
“Haverá uma primeira discussão [sobre o resultado da eleição dos EUA] em Budapeste”, confirmou uma terceira fonte da UE. Eles falarão sobre comércio, mas o retorno de Trump levanta outra grande questão para a Europa: segurança.
Ucrânia no limbo, o futuro da NATO em questão
Uma das maiores promessas de Trump durante a eleição foi cortar a ajuda militar dos EUA à Ucrânia, e isso deixou as capitais europeias nervosas. Sem o apoio americano, a posição da Ucrânia contra a agressão russa enfraqueceria significativamente.
As autoridades europeias sabem que não têm recursos para substituir os bilhões em ajuda militar que a Ucrânia recebe atualmente dos EUA. Perder esse apoio pode levar a Ucrânia a um acordo de paz desvantajoso com a Rússia — uma vitória para Putin e um pesadelo para a Europa.
O presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Olaf Scholz estão se preparando para tomar uma posição, pedindo por “uma Europa mais unida, mais forte e mais soberana”. Eles estão dobrando a aposta em uma estratégia de defesa compartilhada e pressionando a OTAN a reforçar a segurança europeia.
As apostas são altas, e os líderes da OTAN sabem disso. A aliança, há muito uma peça-chave da defesa da Europa, depende muito do envolvimento americano, e o retorno de Trump reavivou os temores de uma OTAN fraturada.
O Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte, que serviu anteriormente como primeiro-ministro holandês, disse que estava pronto para trabalhar com Trump, mas não escondeu as preocupações da aliança. “A OTAN ajuda a promover os interesses dos EUA, multiplica o poder americano e mantém os americanos seguros”, ele lembrou a Trump, sutilmente sinalizando que a OTAN não é apenas um cobertor de segurança europeu.
O coordenador transatlântico da Alemanha, Michael Link, compartilha essas preocupações, alertando que a Europa não pode ficar sentada e esperar pelo próximo movimento de Trump. “Temos que deixar claro o que esperamos dos EUA, que eles devem cumprir suas obrigações com a OTAN”, disse Link na rádio alemã. O grande medo aqui é uma América desengajada, com uma Rússia mais agressiva e uma China encorajada.
A UE enfrenta escolhas difíceis
“Nosso grande foco é manter a unidade europeia”, disse um terceiro diplomata que falou sobre as próximas discussões da UE. Analistas do ING colocam isso sem rodeios: a combinação de tarifas e o apoio militar decrescente dos EUA à Ucrânia é o pior cenário da Europa.
O Ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, falou no mês passado, dizendo que se os EUA seguirem esse caminho, a Europa teria que “considerar retaliações”.
As tarifas gerais propostas por Trump podem prejudicar fabricantes de automóveis alemães como a Volkswagen e a BMW, dando um duro golpe em um setor que já está em dificuldades.
Lindner enfatizou a necessidade de diplomacia, instando os líderes da UE a trabalharem juntos para evitar um conflito comercial EUA-UE. “Não é do melhor interesse dos EUA ter um conflito comercial com [a] União Europeia”, ele argumentou.
E então há a questão da tecnologia. A Europa já começou a aprovar novas regulamentações visando gigantes da tecnologia americana, o que provavelmente inflamará a administração de Trump. Os líderes europeus sabem que precisam pisar com cuidado aqui; adicionar combustível a um ambiente comercial já tenso pode inclinar a balança para uma guerra comercial aberta.
Ato de equilíbrio diplomático: andar na corda bamba
Enquanto alguns líderes, como Macron, tentam manter uma postura diplomática, o clima entre as autoridades europeias é sombrio.
Macron já sinalizou que está disposto a trabalhar com Trump, dizendo: “Pronto para trabalhar juntos como temos feito por quatro anos”.
Mas ele e Scholz também sabem que a Europa precisa estar mais forte do que nunca se quiserem acompanhar os EUA sob o comando de Trump.
A UE está se esforçando para fazer sua voz ser ouvida, mas, no final, a Europa está caminhando para uma nova realidade econômica, marcada por tensão, instabilidade e muitas incógnitas.
A unidade, a economia e a própria soberania da UE estão em jogo. Trump está de volta e, desta vez, a Europa está sentindo o aperto mais forte do que nunca.