O Bitcoin, em sua essência incandescente, desponta novamente como o cometa de ouro que atravessa os céus da ambição humana, desenhando trilhas de desejo na escuridão de nossa incerteza econômica. Agora, roçando os cem mil dólares, ele brilha, não como um astro eterno, mas como um fogo que dança sobre a lenha seca da especulação. E sob este espetáculo hipnótico, muitos se lançam, cegos pelo reflexo, sem perceber que o chão sob seus pés é feito de pó e não de rocha.
A história do Bitcoin é escrita em capítulos de euforia e pranto, de ascensão ao topo e quedas tão brutais quanto previsíveis. Em 2017, o apogeu de vinte mil dólares trouxe júbilo, mas foi rapidamente sucedido por uma queda que deixou apenas fragmentos de esperança. Em 2021, o patamar dos sessenta e nove mil dólares parecia inquebrável, até que o peso do mercado o empurrou novamente para os trinta mil. Quem olha para este ciclo e não enxerga o padrão está destinado a repeti-lo, como Sísifo em sua montanha de ilusões.
A exuberância atual é a melodia de uma ópera que já conhecemos: investidores impulsivos, seduzidos pelo brilho, entram no jogo sem calcular os riscos. Esquecem-se de que o mercado, esse deus impassível, pune com a mesma força que recompensa. Cem mil dólares parecem, agora, uma fortaleza inexpugnável, mas os ventos das correções têm força para demolir até os mais sólidos castelos de areia. Uma queda de trinta, cinquenta ou até oitenta por cento não é apenas possível; é provável. E o que hoje é um trono dourado amanhã pode ser um trono de espinhos.
Mas quem ousará ouvir o aviso no auge da euforia? É da natureza humana acreditar na perpetuidade do prazer e negar a chegada da dor. Cada novo investidor, como um Ícaro moderno, alça voo em direção ao sol sem considerar que suas asas são feitas de cera. O derretimento, quando vier, não será um acaso, mas a consequência inevitável da soberba e da negação.
Este momento, então, deve servir de reflexão para aqueles que contemplam o Bitcoin com olhos brilhantes e mãos impacientes. Não é o preço que determina o sucesso, mas o entendimento. Quem compra no topo muitas vezes vende no pânico, e quem vende no pânico frequentemente sai do jogo antes da próxima ascensão. Saber esperar é mais valioso do que qualquer cifra momentânea.
O Bitcoin, como todo símbolo, carrega em si a dualidade de sua promessa e seu risco. Aqueles que agora o perseguem, como se fosse a resposta definitiva para suas aspirações, fariam bem em lembrar: nenhum brilho é eterno. A luz que hoje guia também pode ofuscar. E quando o ouro digital for tragado novamente pelo abismo de suas próprias correções, apenas os preparados poderão dizer que realmente compreenderam o que significa este mercado. Aos outros restará apenas o lamento, o aprendizado tardio e o amargo sabor da desilusão.