Executivos de criptomoedas estão confiantes de que não será fácil impor a proibição de stablecoins autocustodiais no Brasil, com muitos exemplos provando que uma maior descentralização é inevitável.
Uma possível decisão do Brasil de proibir transferências de stablecoins para carteiras de autocustódia apenas desencadearia um maior movimento em direção à descentralização, dizem executivos do setor.
O Banco Central do Brasil (BCB), em 29 de novembro, oficialmente propôs proibir transações de stablecoins, como a USDt da Tether, para carteiras de autocustódia como MetaMask ou Trezor.
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O uso de stablecoins tem crescido no Brasil, à medida que os cidadãos têm buscado se proteger contra a desvalorização do real brasileiro, adquirindo stablecoins lastreadas em dólar americano.
Com o Banco Central do Brasil esperado para concluir consultas públicas sobre a possível proibição em fevereiro do próximo ano, vários executivos avaliaram seu potencial impacto no mercado local.
Qual a probabilidade de a proibição ser aprovada?
As possíveis restrições às stablecoins pelo BCB visam impedir que transações de stablecoins ocorram fora das plataformas de negociação brasileiras, disse Carol Souza, cofundadora da escola Área Bitcoin, ao Cointelegraph.
Plataformas de negociação de criptomoedas no Brasil têm aplicado medidas de KYC desde 2019, observou Souza, referindo-se ao fato de que transações peer-to-peer (P2P) permanecem livres de tais restrições.
O Brasil tem sido um pioneiro em regulamentação, impondo regras rigorosas de KYC e criando o Pix — um sistema introduzido em resposta à crescente popularidade do Bitcoin, ela disse.
Souza sugeriu que a proposta do BCB provavelmente se tornará realidade em 2025, já que o Banco Central parece estar se preparando para regulamentações que impeçam indivíduos de realizar transações P2P com stablecoins. Ela afirmou:
“Se essa for a direção do Banco Central na consulta pública, é provável que seja regulamentado como proposto. Outra demonstração de como os governos usam proibições para garantir que a demanda por suas moedas fiduciárias em derretimento não diminua.”
A proibição seria difícil de aplicar
Embora seja difícil dizer se o Brasil eventualmente aplicará as restrições de stablecoins propostas pelo BCB, tais propostas tendem a enfrentar muitos debates antes da implementação, disse Lucien Bourdon, analista de Bitcoin da Trezor, ao Cointelegraph.
A possível proibição de stablecoins de autocustódia pelo Brasil seria difícil de aplicar, sugeriu Bourdon, afirmando:
“Governos podem regulamentar exchanges centralizadas, mas transações P2P e plataformas descentralizadas são muito mais difíceis de controlar, o que significa que a proibição provavelmente afetaria apenas parte do ecossistema.”
Por outro lado, as restrições no Brasil poderiam potencialmente mudar as formas comuns de acessar criptomoedas e dificultar para iniciantes começarem, potencialmente desacelerando a adoção, observou Bourdon.
Mesmo com uma possível desaceleração na adoção usuários existentes encontrarão maneiras de transacionar criptomoedas livremente, sugeriu o executivo, afirmando:
“Se for aprovada, esperamos que os usuários migrem para plataformas descentralizadas ou soluções P2P.”
Carol Souza, da Área Bitcoin, ecoou as observações de Bourdon, enfatizando que o BCB não pode impedir as pessoas de realizar transações P2P através de suas próprias carteiras ou mesmo criar novas formas de stablecoins.
“Isso é especialmente relevante agora que stablecoins estão sendo criadas na camada 2 do Bitcoin por meio do Taproot Assets na Lightning e outras soluções de camada 2, como a USDT na rede Liquid,” acrescentou.
Migração para P2P vista em países com proibições semelhantes
As autoridades brasileiras não estão sozinhas em tentar limitar transações de criptomoedas P2P, já que outros países como Nigéria e China têm tentado restringir atividades cripto.
Referindo-se a desenvolvimentos regulatórios e seus resultados em países como Nigéria e China, Lucien Bourdon, da Trezor, destacou um padrão de usuários de criptomoedas migrando para soluções descentralizadas quando outras opções são limitadas.
“Na China, a proibição de exchanges centralizadas empurrou os usuários para plataformas descentralizadas como a Uniswap,” disse Bourdon, da Trezor.
Previsões para as stablecoins em 2025: Qual o futuro do mercado de US$ 200 bilhões?
“Na Nigéria, onde bancos não podem facilitar transações de criptomoedas, as pessoas recorreram a plataformas peer-to-peer e exchanges descentralizadas para negociar e acessar criptomoedas,” ele acrescentou.
A Tether está comprometida em colaborar com o Brasil
Paolo Ardoino, CEO da Tether, disse ao Cointelegraph que as restrições propostas às stablecoins pelo Brasil podem apresentar desafios práticos significativos e poderiam, de forma não intencional, prejudicar os consumidores brasileiros, dada a ampla adoção de stablecoins nacional e globalmente.
Ele mencionou que o Brasil é um dos mercados mais ativos para USDt na América Latina, refletindo uma forte demanda de usuários que valorizam a estabilidade da USDt em um ambiente econômico dinâmico.
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O real brasileiro (BRL) atingiu mínimas históricas contra o dólar americano. Fonte: TradingView
“A Tether está comprometida em trabalhar colaborativamente com as autoridades brasileiras como parte de seu trabalho contínuo de desenvolvimento regulatório para encontrar um equilíbrio que promova a inovação enquanto garante uma robusta proteção ao consumidor,” disse Ardoino, acrescentando:
“Estamos confiantes de que uma abordagem regulatória cuidadosa pode apoiar a liderança do Brasil no espaço de ativos digitais e atender às necessidades de sua economia e população.”
Fonte: Cointelegraph Brasil - 26.12.2024
Créditos da reportagem: Helen Parts
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